terça-feira, 3 de maio de 2011

O Chamamé tem morada em Campo Grande

Setembro de 2008 foi a data da fundação do Centro Cultural do Chamamé em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. Sua fundação deu-se por inciativa de quatro homens : Orivaldo Mengual (radialista), Coquimarola (músico argentino), Elinho do Bandoneón (músico campo-grandense) e Orlando Rodrigues (entusiasta) - todos  movidos por uma única paixão que tinham em comum, o chamamé.
O Centro Cultural do Chamamé representa um espaço onde não só o chamamé é reverenciado, mas outros ritmos fronteiriços que constituem a Identidade Musical do estado como a polca paraguaia e a guarânia.
O Centro Cultural realiza todo dia 19 de cada mês ENCONTROS com músicos e aprecidadores. Essas reuniões tem como objetivo a fruição dos ritmos fronteiriços assim como a construção de um espaço onde se vive a cultura chamamezeira.
É oferecido no Centro Cultural aulas de bandoneón e de violão. Os ENCONTROS são regados a comida da culinária regional como arroz-de-carreteiro, guisado de mandioca com carne seca, sopa paraguaia entre outros.
Hoje o Centro vem ganhando grande visibilidade pelo trabalho que vem realizando em prol da cultura sul-matogrossense. O CCC participa de eventos como feiras agropecuárias, realiza festivais e é notícia na imprensa do estado. 
Todo esse espaço que o Centro Cultural do Chamamé vem conquistando mostra que os ritmos fronteiriços  tem papel marcante  na constituição da Identidade Musical do estado .


CHAMAMÉ: SÍMBOLO DA RESISTÊNCIA CULTURAL

  A divisão do então estado de Mato Grosso em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul em 1977, trouxe consequências que ultrapassaram a fronteira política e econômica. O próprio nome dado ao novo estado parece mostrar que a divisão não ocorreu de forma decisiva, ficou uma impressão de continuidade, de unicidade e consequentemente, a falta de uma identidade própria para o novo estado.
Por muitos anos o sul-mato-grossense buscou construir sua identidade cultural. O novo estado tinha características econômicas e geográficas muito parecidas com o estado vizinho: uma economia baseada na agropecuária, o pantanal, o nome. Entretanto tinham uma história diferente. O novo estado não carregava a história da ocupação bandeirante, da extração do ouro, das cidades nascidas e desenvolvidas em decorrência do ciclo do ouro.
Diferenças e semelhanças à parte, uma coisa é certa: Mato Grosso do Sul traz na constituição de sua identidade cultural a influência marcante dos ritmos da Bacia Platina especialmente do Paraguai e da Argentina. Nossa musicalidade é marcada pelos ritmos platinos Polca paraguaia e Chamamé. É verdade também que apesar da influência mencionada, a música do Mato Grosso do Sul se reinventou, tanto é que hoje se discute, por exemplo, que tipo de Chamamé será tocado no 1º Festival do Chamamé de Rio Brilhante.
A identidade musical de Mato Grosso do Sul é muito forte, e não se fala em resgate dos ritmos fronteiriços, pois este termo guarda relação com algo que foi perdido e precisa ser reencontrado. Na verdade, o que se discute é o papel dos ritmos fronteiriços na formação cultural do estado.
Apesar da preponderância dos produtos da indústria cultural, da música- mercadoria, percebe-se que em nosso estado há espaço para o florescimento da música autêntica que não tem outra natureza que não a de ser manifestação espontânea, reveladora da alma de seu povo.   Prova disso foi a criação do Centro Cultural do Chamamé em Campo Grande; a fundação do Centro de Tradições do Chamamé, a organização do 1°Festival de Chamamé de Mato Grosso do Sul ambos em Rio Brilhante e a reunião que hoje estamos realizando.
Nascido no ambiente rural, o Chamamé assim como a polca paraguaia trazem a poética da vida do campo, dos bailes de fazenda, das comitivas boaideiras, dos translados pelo pantanal, das colheitas nos ervais, das rodas de tereré.
Com o passar dos tempos a vida no campo se modificou. As atividades do campo foram alteradas com a introdução da tecnologia que substituiu a mão de obra humana pela mecanização. As estradas das comitivas antes de chão batido, hoje são asfaltadas, pertencem aos caminhões, às carretas É o progresso que chegou. Mas sobrevive ainda, a essência daquele tempo, presente na musicalidade sul-mato-grossense.
O Chamamé tem vida própria. É forte. Encontrou e sempre encontrará espaço na cultura do estado de Mato Grosso do Sul por um único motivo:  nutre-se do gosto espontâneo que emana de sua gente. Não é mercadoria. É arte. É expressão da alma da gente nascida neste chão.